quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

16º alvorecer - ano novo (para Say e família)


“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante,vai ser diferente...
...Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua FELICIDADE!!!


Texto de: Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

15º alvorecer - Vinícius de Moraes


Poema de Natal
.
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Texto de: Vinícius de Morais

14º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 7)



batuco chovisco
no telhado da poesia
(a)r/risco molhado

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

13º alvorecer - Da vida


Palavras do Mestre Salomão:

"...
O sol continua a nascer, e a se pôr,
e volta ao seu lugar para começar tudo outra vez.
O vento sopra para o sul, depois para o norte,
dá voltas e mais voltas e acaba no mesmo lugar.
Todos os rios correm para o mar,
porém o mar não fica cheio.
A água volta para onde nascem os rios,
e tudo começa outra vez.
Todas as coisas levam a gente ao cansaço --
um cansaço tão grande que nem dá para contar.
Os nossos olhos não se cansam de ver,
nem os nossos ouvidos de ouvir...
...Eu tenho visto tudo o que se faz neste mundo
e digo: tudo é ilusão.
É tudo correr atrás do vento.
Ninguém pode endireitar o que é torto,
nem fazer contas quando faltam os números."

As redes sempre cheias,
os barcos navegando.
Assim seja.
Amém.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

12º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 6)



Passa a mocidade...
e incerto, à frente,
o deserto cheio de saudade...


(Abel Pereira)



LAMENTÁVEL: CENTENÁRIO DE ABEL PEREIRA PASSA EM BRANCAS NUVENS

Abel Pereira, poeta e jornalista, nasceu na cidade de Ilhéus, em 10 de Dezembro de 1908, portanto, hoje é o dia do seu centenário, data que deveria ser entusiasticamente celebrada pela Academia de Letras de Ilhéus, entidade da qual foi seu fundador e primeiro presidente. No entanto, apesar dos esforços que empreendemos nesse sentido, parece-nos que tal data passará em brancas nuvens. Abel ainda foi membro de várias instituições como o Instituto Histórico, Associação Brasileira de Imprensa, União Brasileira dos Escritores, entre outras. Colaborou com diversos periódicos como o Diário da Tarde, de Ilhéus, O Intransigente, de Itabuna, A Voz de Itabuna, A Tarde, de Salvador e com a revista Leitura, do Rio de Janeiro. Deixou quatro livros publicados: Colheita (1957), Poesia até Ontem (1977), Mármore Partido (1989) e Haikais Vagaluminosos (1989), todos de Haicai.Antes de Abel Pereira, apenas três outros poetas haviam publicado livros exclusivamente de Haicais no Brasil, não dois, como afirma Olga Savary no posfácio de Mármore Partido. Waldomiro Siqueira Jr. foi o primeiro, em 1933 publicou o livro “Hai Kais”; Oldegar Vieira, o segundo com Folhas de Chá (livro que urge ser reeditado), em 1940; seguem-se Osório Dutra, com Emoção, em 1945 e Abel Pereira, com Colheita, em 1957.Sobre “Colheita”, manifestou-se o poeta de Passárgada, Manoel Bandeira, dizendo: “Abel Pereira é um craque do haicai. Desde o primeiro, são cento e noventa e três estremecimentos, murmúrios ou rastros de perfume.”



Texto de: Gustavo Felicíssimo

http://www.sopadepoesia.blogspot.com/
http://www.cronopios.com.br/blogdotexto/blog.asp?id=3238

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

11º alvorecer - Poeira















Poeira

a poira prova o deserto
do paraíso profundo,
pousando em móveis antigos
pedaços de todo mundo.

no rastro dos mais velozes,
nos cantinhos do porão,
a poeira prova o deserto
imundo da solidão.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

10º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 5) versão Plus


acabou a farra
formigas mascam
restos da cigarra
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Esse haikai é da lavra de Leminsk, um dos camaradas que mais produziu e divulgou, pelas bandas de cá, essa arte originada no Japão.

sábado, 22 de novembro de 2008

9º alvorecer - Adélia Prado (para Brisa)





Tenho certeza que você
já conhece essa, mama.
Sempre valerá a pena.






Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Texto de: Adélia Prado

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

8º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 4)



chuva de verão:
lá do céu vem desabando
sol pra todo lado.

7º alvorecer - Meu filho


Tem coisas que a gente exercita, maquína, faz e acontece, descarta, conhece, desconhece, recomeça se for preciso. Observamos a morada do "fenômeno", vamos nos aconchegando, tomando intimidade, ele vai tomando ousadia pro nosso lado, tomando boca, vai rolando uma síntese, uma sinergia... aí a coisa floresce e nos permite o acesso sempre que "desejarmos". Tem a ver com confiança, com educação.

Agora... sem mais requenguele: esse cara tá a coisa mais linda nessa foto. Ó que felicidade da pêga! Ficou massa! Muito natural. Não dá pra dizer que foi forjado. Isso foi numa brincadeira com o Vô.
Ele deixa a gente alegre demais.
"... ser feliz é melhor do que ser triste,
alegria é a melhor coisa que existe..."

Pô velho... é meu filho!

Vou endeusar, vou endeusar...

Divíno!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

6º alvorecer


"Quando o espírito está embebido de haikai, o sentimento interior se funde com as coisas exteriores para determinar a forma do verso, e tão bem que o objeto é apreendido tal qual ele se apresenta, sem que a visão própria crie a menor divergência. Se o espírito, pelo contrário, não se depurou, a visão própria entra em ação e a pessoa tende a buscar a perfeição no arranjo das palavras. E isso constitui apenas a vulgaridade de um espírito que não se esforça para encontrar a verdade."* Tohô

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

5º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 3)




...azul, verde, rosa...

e a primavera se expande

na flor da cássia- grande.

domingo, 16 de novembro de 2008

4º alvorecer - Carnaval









Vi
um eclipse de nós
cegos
sem sombra de dúvidas
éramos só carnaval
éramos nó agogô

3º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 2)









descambei crisálida,
persistindo entregue
ao esmero de sermos.

2º alvorecer - A função da arte


"Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
Me ajuda a olhar!"
Texto de: Eduardo Galeano

sábado, 15 de novembro de 2008

1º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 1)


farfalho de folhas,
cosquinha no vento,
sorriso no ar.
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Conversas com Ló, minha filhota de 7 anos, essa da foto:
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-Papai, eu já sei como é o nome
de uma linha de poesia.
- E como é Ló?
-Vértebra!
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Depois de um bombardeio de perguntas, já exausto, vazio, larguei:
- Poxa, Ló! Você também, viu?! Leva tudo ao pé da letra!
- Papai, onde fica o pé da letra?