domingo, 29 de agosto de 2010

45º Alvorecer - Ildásio Tavares


Faz alguns meses que Ildásio Tavares esteve aqui pela região. Assisti sua palestra e vi o poeta respondendo com propriedade, prontidão, bom humor e ironia aos questionamentos que lhe eram feitos.

A boca idosa se balançava toda nas respostas, e podia até enganar a quem pensasse se tratar de uma boca frouxa, mas não, era uma boca livre.

Não o conheci com intimidade, e, talvez por isso, não pude imaginar que aquela carcaça bem humorada carregava um imenso vulcão de dimensão trágica. Sigamos o percurso de uma de suas erupções em forma de soneto:

Quando eu nasci, já recebi a cruz,

plantada no caminho á minha espera,

a projetar a sua sombra austera

onde eu busquei sedento paz e luz


Quando eu nasci, já recebi Jesus

como anúncio de dor e primavera.

Mas era uma outra luz; uma outra esfera —

meu caminho, não sei onde conduz.


Resta-me a cruz e a dura provação

dos espinhos da vida, triste dança

de enganos, dissabores, ilusão.


que penetram-me o peito feito lança

e afastam a luz que a vista não alcança —

numa só chaga pulsa o coração.


Ildásio Tavares faleceu dia 31 do mês passado, estava com 70 anos.

Ildásio nasceu em Gongogi, na Fazenda São Carlos, mas foi registrado como sendo de Ubaitaba, terra dos camaradas Ismera (guitarrista dos Mendigos Blues) e Léo Batera (ex-batera dos Mendigos), e com certeza não era um dos maiores poetas vivos da Bahia por conta de sua pouca altura, mas era dos melhores, vertical.


Ildásio prefaciou o livro Diálogos, organizado por Gustavo Felissíssimo, no qual deixei alguns haikais como contribuição.


Quem quiser conhecer um tanto de sua obra, pode começar procurando em:


http://www.germinaliteratura.com.br/itavares.htm


foto recolhida da página do jornal A Tarde

poema encontrado na página do Jornal de Poesia