sexta-feira, 28 de novembro de 2008

10º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 5) versão Plus


acabou a farra
formigas mascam
restos da cigarra
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Esse haikai é da lavra de Leminsk, um dos camaradas que mais produziu e divulgou, pelas bandas de cá, essa arte originada no Japão.

sábado, 22 de novembro de 2008

9º alvorecer - Adélia Prado (para Brisa)





Tenho certeza que você
já conhece essa, mama.
Sempre valerá a pena.






Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Texto de: Adélia Prado

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

8º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 4)



chuva de verão:
lá do céu vem desabando
sol pra todo lado.

7º alvorecer - Meu filho


Tem coisas que a gente exercita, maquína, faz e acontece, descarta, conhece, desconhece, recomeça se for preciso. Observamos a morada do "fenômeno", vamos nos aconchegando, tomando intimidade, ele vai tomando ousadia pro nosso lado, tomando boca, vai rolando uma síntese, uma sinergia... aí a coisa floresce e nos permite o acesso sempre que "desejarmos". Tem a ver com confiança, com educação.

Agora... sem mais requenguele: esse cara tá a coisa mais linda nessa foto. Ó que felicidade da pêga! Ficou massa! Muito natural. Não dá pra dizer que foi forjado. Isso foi numa brincadeira com o Vô.
Ele deixa a gente alegre demais.
"... ser feliz é melhor do que ser triste,
alegria é a melhor coisa que existe..."

Pô velho... é meu filho!

Vou endeusar, vou endeusar...

Divíno!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

6º alvorecer


"Quando o espírito está embebido de haikai, o sentimento interior se funde com as coisas exteriores para determinar a forma do verso, e tão bem que o objeto é apreendido tal qual ele se apresenta, sem que a visão própria crie a menor divergência. Se o espírito, pelo contrário, não se depurou, a visão própria entra em ação e a pessoa tende a buscar a perfeição no arranjo das palavras. E isso constitui apenas a vulgaridade de um espírito que não se esforça para encontrar a verdade."* Tohô

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

5º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 3)




...azul, verde, rosa...

e a primavera se expande

na flor da cássia- grande.

domingo, 16 de novembro de 2008

4º alvorecer - Carnaval









Vi
um eclipse de nós
cegos
sem sombra de dúvidas
éramos só carnaval
éramos nó agogô

3º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 2)









descambei crisálida,
persistindo entregue
ao esmero de sermos.

2º alvorecer - A função da arte


"Diego não conhecia o mar.
O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos.
E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
Me ajuda a olhar!"
Texto de: Eduardo Galeano

sábado, 15 de novembro de 2008

1º alvorecer - Haikai e as lições naturais (parte 1)


farfalho de folhas,
cosquinha no vento,
sorriso no ar.
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Conversas com Ló, minha filhota de 7 anos, essa da foto:
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-Papai, eu já sei como é o nome
de uma linha de poesia.
- E como é Ló?
-Vértebra!
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Depois de um bombardeio de perguntas, já exausto, vazio, larguei:
- Poxa, Ló! Você também, viu?! Leva tudo ao pé da letra!
- Papai, onde fica o pé da letra?