terça-feira, 23 de novembro de 2010

49º alvorecer - Nota de repúdio

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC
NÚCLEO DE ESTUDOS AFRO-BAIANOS REGIONAIS - KÀWÉ


Por se constituir uma Universidade, a UESC não pode se esquivar de reconhecer raízes da concepção e formas de expressão da cultura regional. Nesse sentido, faz-se necessário seu envolvimento com os sujeitos, atores e segmentos sociais de seu território de abrangência.
O Kàwé – Núcleo de Estudos Afro-Baianos Regionais busca dialogar com a realidade sócio-cultural da Região Sul da Bahia em consonância com os objetivos da UESC, voltado para a construção do conhecimento sobre afrodescendentes.
Recentemente fomos surpreendidos pela notícia de domínio público sobre a agressão policial sofrida pela Sr.ª Bernadete Ferreira de Souza, do assentamento D. Helder Câmara, na localidade de Banco do Pedro, Ilhéus, BA, pessoa iniciada na Religião do Candomblé.
  Relatam as notícias que a Sr.ª Bernadete, Ialorixá do TerreiroIlê Axé Odé Omim Uá, sofreu vilipêndio moral e físico por parte de policiais militares do Batalhão 70.ª CIPM, de Ilhéus, BA, sob a acusação verbal de que havia, no assentamento do qual a Sr.ª Bernadete faz parte, uma suposta carga de drogas e armas enterradas. Segundo as notícias veiculadas, a invasão ao território e ao domicílio da assentada não tinha autorização judicial. E a violência desencadeada contra aquela Senhora se deveu à sua resistência ao ato que se configurava como invasão.
Bernadete foi presa e conduzida à cadeia, após ser arrastada pelos cabelos e depositada em cima de um formigueiro. Segundo as notícias, os policiais agiram assim sob alegação de que o procedimento tinha como objetivo “retirar o Satanás” que estava possuindo Bernadete, pois a mesma, no meio do conflito, entrou em transe de orixá.
Os estudiosos e pesquisadores do Kàwé afirmam publicamente sua indignação e protesto contra tal ato de bárbara selvageria contra a mulher, contra a mulher negra, contra a religião do Candomblé, contra os afrodescendentes.
 Os integrantes do Kàwé entendem que, se a sociedade civil e as estâncias de poder constituído não fizeram frente a tal estado de coisas, a civilização sucumbirá ao peso da ignorância, da prepotência, do preconceito, da arrogância, do poder de mando e da discriminação que se mostraram evidentes nesse episódio, no Sul da Bahia.
Se aqueles que têm a obrigação de defender e proteger os cidadãos, mantidos com recursos oriundos de nossos impostos, agem assim, a quem recorreremos diante da violência assoladora?

Campus Soane Nazaré de Andrade, 9 de novembro de 2010
Equipe Kàwé

Bernadete Souza exibe as marcas das picadas das formigas
"nota retirada do blog de Daniela:http://www.operariadasruinas.blogspot.com/

Nenhum comentário: