quinta-feira, 24 de março de 2011

70º Alvorecer - Haikai e as lições naturais(parte28)

praça da liberdade -Foto: autor desconhecido

Hoje, na sala de aula, quando falávamos sobre o estímulo ao embranquecimento da nação dado pelo governo num determinado período de nossa história, chegamos à imigração Japonesa. Então um colega comentou em tom tranqüilo e ironico:
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- Lá em Itabuna já tem até uma Rua da Liberdade! rs
E tem mesmo! Fica no Novo Horizonte.
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Lembrei-me de alguns aspectos de minha condição: um filho de preto e índio, que fala português e é apreciador de Haikai!
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- Haikai?! Quanto "lirismo bichano"! Poderia dizer Maiakovski.
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Pensei um pouco sobre a cultura e suas dinâmicas, no quanto é reinventada. Como é transitória!
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Até que a conversa migrou.

foto: (autor desconhecido) - Bairro da Liberdade, São Paulo
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o japonês passa
pela rua da liberdade
- caminhos do haikai

2 comentários:

Pedraum disse...

Pense. Olha que coisa doida. O peso que a escravidão teve no Brasil foi determinante para nossa construção cultural e econômica principalmente. Porém existia no período colonial e perdura até hoje a tentativa de relgar os negros à marginalidade. O que define nossa identidade então?

Mither disse...

Véi, eu fiquei na estiga de puxar essa conversa lá na faculdade.

Num bar eu diria assim:
- Definitivamente, nossa identidade está firmada no trânsito!
Isso com toda aquela algazarra de bebida e integração.

Quando você põe a questão da marginalização dos negros, e pelo tanto que te conheço, aí estou tranquilo em afirmar que nossa identidade caminha numa formação anti-sistêmica.

Tem uma cara que eu me faço essa pergunta. Uma vez respondi ela assim:

Sou filho de nós
filtro d'a_voz

andanças entre o mar e o morto
de porto ao caos

caminho nos atos

vivo

como fatos
de um bode português.

Agora, esse "bode portugês" ficou meio preso, unidimensional, depois da última aula de Brasil 3.
Está muito... metropolitano.

Aí eu estava agarrado ao plano de conflito, que ainda é recorrente, com a instituição governamental e tudo o que se atrela a ela, inclusive a língua.

Mas veja esse trecho de Camões que Luiz Gama usa na introdução de um poema um poema de afirmação técnico-formal nos conformes da educação da elite, mas de conteúdo afro.

"pretidão de amor
tão leda a figura
que a neve lhe jura
que mudara de cor."

quer dizer, ele apoiava sua estética a uma figura que é pico referencial da cultura portuguesa, deslocando os anti-abolicionistas para o lugar daqueles que são os criminosos contra sua própria casa, já que, mesmo independente politicamente de portugal, o Brasil ainda apresentava valores de julgamento erdados dos portugueses.

então esse "bode português" parece valer em um nível crítico. é um verso que diz dos ranços que persistem
mas eu gosto mais da simplicidade do "vivo", que é distinto. reclama um brilho de afirmação.

"...brilhar como um farol
esse é o meu lema
e o do sol." Maiakowski

que viagem. onda doida.

Abraço Pedraum