Uma vez perguntei a um amigo, que respeito os ouvidos, o que ele pensava sobre o Cordel:
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-Há Mither, o cara é muito desafinado, não gosto!
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Aquilo me intrigou porque vinha de uma pessoa que ouvia Pink Floyd, e quem ouve Pink Floyd ouve passarinhos misturados com sinos, aquelas coisas eletrônicas, explosões, efeitos, gritos, transitoriedade de ambientes caóticos para melódicos e suaves, ouve a transformação do que em uma tradição seria visto como ruído, para uma informação musical, percebe a ampliação do universo, a dilatação da linguagem. Portanto deveria estar pronto para o Cordel.
Vejamos o que digo no clip de Mademoiselle Nobs:
Mas realmente o Cordel tem uma poética diferente. Apesar de dialogar em algum nível com esse código amplificador, do qual o Pink Floyd faz uso, o Cordel tem muito dos mouros, da tradição dos cantadores, dos tambores, afro em muitas pegadas, da rica literatura sertaneja e é uma banda de afirmação nordestina, brasileira, com um apelo mais visceral, cheirando a messiânico. Outro universo. Outra estética.
Na década que passou o Cordel significou uma melhores expressões artísticas que tomei contato. Me trouxe de volta a sensação que tive com alguns discos de que "isso está acontecendo!!" de vibrar, de sentir a vitória daqueles que estão no subterrâneo, lapidando a mais bela força do que há de vir, de vê-los e reconhece-los vencedores na luz. Amém.
4 comentários:
Diga Mither, se "quem ouve Pink Floyd ouve passarinhos misturados com sinos, aquelas coisas eletrônicas, explosões, efeitos, gritos, transitoriedade de ambientes caóticos para melódicos e suaves, ouve a transformação do que em uma tradição seria visto como ruído, para uma informação musical, percebe a ampliação do universo, a dilatação da linguagem." Quem escuta Stockhausen, escuta o que? Rs. Aliás, "passarinhos misturados com sinos" caberia à música de Arvo Pärt? hauhauaa
Até
"Não me faça ler este poema
cheio de frases secretas
e de tanta inteligência.
Não me obrigue a ler o verso
que algum filósofo sustenta
para me salvar da inércia.
Seja para mim mero poeta
de olhar o horizonte todo um dia
e me convidar a sentar ao cais.
E,então,faça de seu livro um barco,
do poema, velas e mastro
e deixe-me soprar" Marcos Vinícius
Eu não maltrataria ninguém pedindo para que escutasse Stockhausen... O Floy utilizou com muito mais tato os conceitos trazidos por ele.
Talvez por ele está tão concentrado nos conceitos, sua música, ao menos pra esse parvo aqui, soa insípida, abstrata demais.
Stockhausen tem contribuições na música concreta e eletrônica, numa remodelação de ouvidos, assim como Arvo e o minimalismo. Arvo muito mais flúido, lírico, lúcido, apassarinhado. Arvo tem uma música bonita. Spiegel Im Siegel me lembra algumas coisas do Division Bell.
O Floyd tem uma formação erudita, se utiliza dos conceitos trazidos por Stockhausen, por isso, imagino que deva algum tributo. Mas eles fizeram muito mais bonito. Avémaria, de longe!
Até, Coutinho
"Isso não se ensina seu bosta"
abraços
axé
Eu demoro um pouco mais pra degustar o Cordel. Enquanto tem gente que devora rapidin, eu custo a mastigar, mas mastigo. Gosto mais dos recitais poéticos que de sua batucada.
Batucada por batucada, por erudita, por fluídica, por boniteza, lírica, estou muito com a atualíssama baiana 'OKESTRA RUMPILEZZ'. Sim, são sotepolitanos a tamborilar o universo percussivo baiano. Fizeram a cabeça de todos no Festival de Jazz do Capao... Enfim, percussão por percussão, sorvo do Cordel apenas sua poesia.
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